terça-feira, 4 de outubro de 2016

Simpósio de HMI em Araraquara



Inicio parabenizando todos os envolvidos com a organização do evento. Foi perfeito!!!

Como eu já escrevi no blog em outro texto, a Hipomonineralização de molares e incisivos se tornou o maior desafio da odontopediatria atual. No momento, pesquisadores de todo o mundo tentam chegar a uma conclusão sobre a causa, prevalência, severidade e o tratamento mais adequado dessa má formação.

Nestes dois dias (16 e 17 de setembro) de Simpósio estiveram presentes representantes do Chile, Argentina, Colômbia e Brasil. Infelizmente, ainda há muito que se estudar para termos respostas mais precisas.

A Profa. Dra. Lourdes Santo Pinto, da Unesp de Araraquara, iniciou sua apresentação relatando o primeiro caso que ela teve contato com HM,I em 2002, o que a motivou a formar um grupo de estudos em Araraquara. Esse grupo teve inicio em 2008,e atualmente é responsável por 15% das publicações a respeito da HMI.

É muito difícil fazer a pesquisa, pois a maioria dos pais não se recorda com precisão de tudo que ocorreu durante a gestação e com a criança quando mais nova.

Algumas linhas de pensamento acreditam que a HMI pode ser causada devido a uma infecção que a criança teve na época da formação do dente. A dúvida é, foi a infecção ou o medicamento para combater essa infecção? Alguns estudos já demonstram que o antibiótico pode causar a má formação. Outros estudos relatam a possibilidade genética. A pessoa tem a carga genética e pode ser transferida para outra geração, e somando a influência do ambiente, pode ter a HMI.

Sabe-se hoje que, a dor independe do grau de severidade da doença.
A prevalência na Europa varia de 3,6% a 40%, na África de 2,9% a 13,7%, na Ásia 2,8% a 25,5%, na América de 6,4% a 40,2%, e na Oceania 14,9 a 44%.
Em El Cedro, na Colômbia, a prevalência é de 3,0%, em Medellín 12%. Já em Buenos Aires, na Argentina, a prevalência é 15,9%. Montevidéu é de 6,5%.
No Brasil podemos observar em Araraquara (SP) 12,3%, Pat.Paulista (SP) 14%, Botelho (MG) 19,8%, Rio de Janeiro (RJ) 40,2%, em Teresina (PI) 23,2%, Vila Velha (ES) 21 %, e Manaus (AM) 9,1%

De acordo com Profa. Tuka, o tratamento deve ser individualizado. As crianças com HMI são tratadas 10 vezes mais, devido a adesão insuficiente nesses dentes. A Profa. relata que as crianças com esta má formação podem ser mais ansiosas e apresentarem problemas de comportamento. A opção de tratamento ideal nem sempre é possível e planos alternativos devem ser considerados.
A palestrante argentina, Profa. Dra. Ana Maria Biondi, relatou que as pesquisas realizadas na Argentina não coincidem com a do grupo de Araraquara. Durante a sua palestra, ela nos mostrou as características ultraestruturais do dente com HMI. Disse que a HMI pode ser formada da 18ª semana de vida intrauterina até os 05 anos de idade.

A Profa. Dra. Maria Consuelo Fresno, do Chile, relatou que o mesmo paciente pode apresentar fluorose (alteração causada pelo excesso de flúor) e HMI. Tivemos a oportunidade de ver a Classificação Europeia, Classificação Universal e o diagnóstico diferencial de fluorose, hipoplasias, amelogênesis imperfeita e cáries.

O Prof. Dr. Alfonso Escobar Rojas, da Colômbia, relatou não haver, até o momento, nenhuma evidência científica confirmando a relação entre fluorose dentária e HMI. Eles são defeitos de esmaltes diferentes em relação à aparência clínica e patogênese. Segundo o professor, percebe-se uma diminuição da cárie dentária nos últimos 20 anos, em todo o mundo, e um aumento de dentes com defeitos de esmaltes (HMI e fluorose). Os defeitos no esmalte são cada vez mais evidentes, sendo uma preocupação entre clínicos e pesquisadores de todo o mundo.

As pesquisas no Brasil não detectaram o aparecimento da HMI com diferença nas classes sociais. Já o Chile encontrou um número maior nas pessoas de baixa renda. No Brasil, foi encontrada uma associação entre bebês prematuros e HMI. Seria um fator de risco os bebês prematuros. Já o Chile e Argentina não encontraram essa associação.

No Chile, de acordo com o Prof. Dr. Juan Diego Mejia, muitas vezes quando a criança possui os primeiros molares permanentes com HMI, eles optam pela extração dos quatro e a colocação de aparelho para que o segundo molar permanente ocupe o lugar do primeiro. Já nós, brasileiros, somos totalmente conservadores e tentamos ao máximo a preservação do dente e mantê-lo na cavidade bucal.

De acordo com a Profa. Dra. Marisa Gabrielli, os dentes com HMI possuem fibras nervosas pulpares em abundância. Muitas crianças sentem fortes dores para se alimentar ou até mesmo na hora de falarem. Na hora do tratamento, até mesmo com a anestesia a criança ainda continua sentindo dor.
O Prof. Dr. Weber Abad Ricci nos mostrou várias soluções estéticas para os casos de HMI e os protocolos clínicos.

A dificuldade que nós, profissionais, temos no momento, é a de dar uma resposta conclusiva aos pais. Eles querem saber o que foi responsável por essa má formação. Muitos não compreendem o tratamento complexo e muitas vezes insatisfatório. Eles querem uma solução imediata para a dor e para a estética. Infelizmente, algumas vezes, não podemos suprir essa expectativa dos pais. Os pesquisadores já deram grandes passos, mas ainda há muito para se estudar e conseguirmos uma resposta para a causa e um tratamento mais adequado, correspondendo aos anseios dos pais e do paciente.


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