Já há alguns anos tenho interesse pelo uso das células-tronco em odontologia, e sempre procuro ler e ouvir sobre o tema. No Ciosp 2015 tive a oportunidade em ouvir o Dr. Luciano Casagrande. Até então, eu o conhecia apenas através de seus trabalhos, que costumo ler, e pelo site Associação Brasileira de Odontopediatria.
Ele já foi contemplando com o prêmio William J. Gies pelo melhor trabalho publicado na área de Pesquisa Biológica em 2010 no Journal of Dental Research, um dos periódicos mais importantes e de maior impacto na odontologia internacional. O trabalho intitulado “Dentin-derived BMP-2 and Odontoblastic Differentiation of SHED” utilizou células-tronco da polpa de dentes decíduos semeadas em scaffolds (matrizes poliméricas) criadas no interior da câmara pulpar de secções transversais de terceiros molares extraídos. As amostras foram cultivadas in vitro e transplantadas para o dorso de camundongos imunodeprimidos. O estudo demonstrou que fatores de crescimento presentes na dentina, especialmente a BMP-2, podem direcionar a transformação de células-tronco em odontoblastos, tendo um impacto importante em termos de possibilidades de terapias regenerativas da polpa dental por engenharia tecidual.
De acordo com o Dr. Luciano as células-tronco pulpares têm uma capacidade de diferenciação, autorrenovação e proliferação. Com todas as pesquisas em andamento pode-se esperar que no futuro possamos usá-las em diversos procedimentos voltados para odontologia e medicina.
É possível obter as células-tronco a partir: da polpa dentária, dos dentes de leite esfoliados, do ligamento periodontal (que liga o dente ao osso); das células progenitoras do folículo dentário; e da papila apical (tecido que fica embaixo da raiz, quando o dente está se formando). Já as células do dente de leite são as que apresentam maior potencial de diferenciação osteogênica. Além de terem a maior capacidade de proliferação, a célula-tronco da polpa do dentinho de leite pode ser retirada na época de sua esfoliação, considerado um procedimento simples.
De acordo com o Dr. Marcelo Bönecker professor de Odontopediatria da USP, em entrevista para a Revista Crescer, “as pesquisas com célula-tronco estão cada vez mais avançadas. Aquelas encontradas na polpa dos dentes contam com a facilidade de acesso, já que o dente cai naturalmente.”
A instituição é uma das primeiras a criar um banco de dentes para receber as doações. É de lá o projeto Fada do Dente, focado em pesquisas sobre o autismo infantil. Vale lembrar que, se a criança precisar extrair um dente permanente por algum outro motivo, ele também pode ser doado, já que sua polpa contém células-tronco do mesmo jeito. Também recebem doações de dentes: Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Universidade Federal de Minas Gerais e a Universidade de Ribeirão Preto.
“Trabalhos recentes mostram que essas células oferecem grandes possibilidades de sucesso em tratamentos de doenças como lúpus e diabetes”, aponta o professor.
Outra possibilidade é os pais contratarem um laboratório para armazenar os dentes de leite do filho (decisão que tomei com relação ao meu filho), assim como se faz com o cordão umbilical. O material será congelado e ficará à disposição da criança, caso ela precise de um tratamento no futuro.
De acordo com Luciano ainda há um longo caminho a ser trilhado, tanto nas pesquisas e estudos clínico, como nas questões relacionadas à legislação que regulamenta o uso de células-tronco na odontologia.
Continuarei acompanhado e torcendo por nossos pesquisadores, pois acredito muito no potencial dessas células e nas benfeitorias que poderão nos proporcionar. Acredito e confio, tanto que já guardei as células-tronco do dentinho do meu filho.
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