Matéria publicada no Jornal Diário da Região em 19 de Novembro de 2014.
Por Juliana Ribeiro.
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Quem tem criança sabe o quanto é comum os pequenos levarem alguns tombos enquanto estão aprendendo a andar. Assim que dão os primeiros passos, sentem-se capazes de sair correndo e, entre uma queda e outra, podem bater os dentes. É nesse momento que muitos pais entram em pânico. Quando a criança cai e bate a boca, ela pode sofrer um traumatismo dentário, e o dente sair por inteiro ou ficar mole dentro da boca. Além da dor e do susto, é normal sangrar, cenário que deixa todo mundo assustado.
Mas antes de entrarem em pânico, os pais devem dar atenção a certos cuidados. Para a odontopediatra Ana Rosa Kuymjian Albieri, a primeira coisa que os pais podem fazer é uma compressa com pano limpo e, em seguida, procurar um dentista, que é o profissional habilitado para realizar o exame clínico e radiográfico. "Se isso acontecer com um dente de leite (dentição decídua), na minha opinião, ele não deve ser recolocado no lugar se a remoção foi completa", explica. Ainda de acordo com a especialista, quando o dentinho de leite sai da boca devido a um trauma, ao tentar recolocá-lo no lugar, podemos encostar sua raiz na coroa do dente permanente em desenvolvimento e, desta forma, causar algum dano quando esse dente irromper.
"Com a radiografia em mãos, o dentista irá verificar se o dente permanente continua na posição correta e também se não ficou nenhum pedacinho do dente de leite no local. Caso o traumatismo dental atinja um dente permanente, o cuidado inicial é o mesmo, porém, é importante procurar o dente perdido. Esteja atento para não segurá-lo pela raiz, e sim pela coroa (as fibras do ligamento periodontal são muito sensíveis e devemos preservá-la para um resultado melhor). Lave em água corrente ou em soro fisiológico, sem esfregar, para retirar a sujeira. você pode tentar colocá-lo no local, para que fique protegido até chegar ao dentista. Se não conseguir, leve-o em um recipiente contendo leite. Se não tiver leite, guarde-o dentro da boca, entre a bochecha e os dentes: a saliva é o melhor meio de conservação em uma situação como essa", ensina. Outro alerta importante é não esperar mais de 30 minutos para procurar um especialista. Quanto antes o paciente for atendido, maior é a chance de reimplantar o dente. "O tempo que o dente permanente fica fora da boca deve ser o mínimo possível, pois as chances de reimplante diminuem com o passar do tempo. O profissional habilitado dará continuidade ao tratamento, de acordo com a resposta do dente ao processo de reimplante", alerta Ana Rosa.
O melhor é manter a calma
Antonio José Gracindo, pai do pequeno Pedro, de 4 anos, conta que aos 3 anos o filho veio correndo ao seu encontro quando tropeçou e bateu a boca em um degrau. "Na hora, além do dente ter voado, saía muito sangue da boca e do nariz. Ele chorava demais, o que não ajudava a ver o que realmente tinha acontecido. Eu e minha esposa conseguimos lavar o rosto dele e corremos para um dentista. Um dos dentes saiu inteiro o outro quebrou. Na hora o dentista fez uma radiografia e, como não sabíamos como preservar o dente, no susto saímos correndo para o primeiro dentista, sem ligar para saber a melhor forma de proceder, e não foi possível reimplantá-lo."
O dente que quebrou foi tratado e refeito com resina; já o que caiu, a família está fazendo acompanhamento para ter certeza de que, mesmo com o trauma, o dente permanente irá nascer normalmente. "Por enquanto, tudo parece estar normal. Só faz 4 meses do ocorrido. Vamos aguardar para ver quais os procedimentos que teremos de tomar daqui para frente", diz o pai. Para o cirurgião dentista Leandro Moreira Tempest, mestre em diagnóstico bucal do curso de odontologia da Unorp, o sangramento abundante é normal e pode estar associado a cortes nos lábios, bochecha e pele.
"O melhor a fazer é manter a calma e, em um primeiro momento, tentar estancar o sangue com uma fralda limpa ou uma toalha. Se o sangramento parar, pode-se lavar a área com água e sabão e, após isso, procurar pronto atendimento. Procure no local possíveis fragmentos ósseos ou dentários e leve-os consigo", explica. Ainda de acordo com Tempest, na maior parte dos casos de avulsão de dentes permanentes, sim, é possível recuperar; já com os dentes de leite, há algumas restrições, como a localização do dente permanente no interior do alvéolo, o que pode tornar contraindicado o reimplante. "O mais importante é não ficar manipulando o dente com as mão sujas."
Após o trauma, como proceder
A odontopediatra Ana Rosa Kuymjian Albieri explica que, "dependendo da gravidade do trauma, há necessidade de uso de medicamentos. Nos primeiros dias, é importante oferecer uma alimentação mais pastosa e líquida. O local deve estar sempre limpo, para evitar infecções, e o dentista deverá orientar os pais de como realizar essa limpeza." Ana Rosa ainda reforça que, se o dente lesionado for um dentinho anterior e a criança chupar chupeta e usar mamadeira, deve-se evitar o uso. "Para todos os tipos de trauma o paciente terá de ter acompanhamento, pois, em alguns casos, podemos ter complicações tardias, como a necessidade de se fazer tratamento de canal, correção ortodôntica, etc", diz.
Diminua o risco
Algumas atitudes por parte dos pais podem ajudar a prevenir as chances de acidente dentário com a criança? Para o cirurgião dentista Leandro Moreira Tempest, sim, algumas atitudes podem ajudar, como: estabelecer limites para a criança, ensiná-las disciplina e os perigos também. "Não deixe seu filho correndo solto pela casa, sem nenhum cuidador por perto. Cuidado com as cantoneiras de mesa, estantes, pias de cozinha e banheiro. O contato com outras crianças pode ser saudável, mas há um ditado que diz: 'Brincadeiras de mão acabam em choro', pois cotoveladas e cabeçadas podem acontecer", alerta.
Cuide Bem
:: Conscientize a família toda sobre a importância da escovação
:: Escove os dentes sempre após as refeições principais e intermediárias (lanchinhos)
:: Controle a ingestão de alimentos que contenham açúcar, mesmo aqueles que aparentemente não levem açúcar, como catchup e salgadinhos industrializados
:: Vá ao dentista pelo menos duas vezes ao ano ou mais, dependendo do caso
Fonte: Leandro Moreira Tempest, cirurgião dentista
Outros tipos de trauma dentário
Concussão
:: É o tipo de traumatismo mais frequente na dentição decídua. Ocorre o rompimento de algumas fibras do ligamento periodontal, com pequenas áreas de hemorragia e edema. Não há sangramento visível, nem deslocamento ou mobilidade dental, e muitas vezes passa desapercebido pelos responsáveis
:: Tratamento: não requer tratamento específico. Indicamos alimentação mais pastosa e líquida e
limpeza da área afetada, de acordo com a indicação
do profissional. Acompanhamento clínico e raio-X,
quando necessário
Subluxação
:: Não há deslocamento do dente afetado, o que ocorre é o rompimento de um número maior de fibras do ligamento periodontal, aumentando as áreas de hemorragia e edema. Logo após o trauma, pode ser observado sangramento pelo sulco gengival. Pode haver uma leve mobilidade dental, que deve diminuir em uma a duas semanas. O dente pode escurecer.
:: Tratamento: repouso da área (indicar alimentação mais pastosa e líquida para preservar a área afetada) e limpeza com orientação do profissional. De acordo com o grau de mobilidade, o profissional irá avaliar a necessidade ou não de se fazer a contenção do dentes afetados. Fazer acompanhamento clínico e raio-X
Intrusão
:: É o deslocamento do dente para dentro do seu alvéolo ósseo, com compressão das fibras do ligamento periodontal, e em alguns casos ocorre fratura do osso alveolar. A intrusão pode ser parcial ou total, chegando a desaparecer totalmente a parte da coroa dental da cavidade bucal, dando a impressão de que o dente saiu da boca (avulsão)
:: Tratamento: repouso e limpeza da área afetada. Acompanhamento clínico e com raio-X. Normalmente, o dente afetado tem capacidade de reerupção, principalmente o dente decíduo. A erupção inicial ocorre nos primeiros 15 dias, mas o aparecimento de toda a coroa na cavidade bucal pode demorar até 6 meses. Caso o dente tenha esmagado e inviabilizado um grande número de fibras do ligamento periodontal ou fraturado o osso alveolar, não será possível sua reerupção, sendo indicada a extração do dente
Fonte: Ana Rosa Kuymjian Albieri, odontopediatra