Dra. Irina Kerk(diretora do Laboratório de Genética do Instituto Butantan), Dr. Alexandre Ayoub(médico pediatra, diretor clínico e fundador do Centro de Criogenia Brasil, eu e a Dra. Camila Fávero (cirurgiã-dentista com mestrado e doutorado pela UNESP e pós-doutorado pela UNIFESP e pesquisadora do Laboratório de Genética do Instituto Butantan)
No dia 7 de abril de 2011 postei no blog sobre as pesquisas feitas com as células-tronco da polpa do dente de leite. Na época ainda não havia a coleta para a população. Este ano, quando estive no Congresso Brasileiro de Odontopediatria, recebi um folder com o nome do primeiro e único laboratório autorizado a fazer esta coleta para a população, e fiquei muito feliz. Entrei em contato para fazer a coleta do meu filho e fui convidada a participar da primeira palestra oferecida a nós, profissionais.
A atividade aconteceu no Centro de Criogenia Brasil, com o Dr. Alexandre Ayoub que é médico pediatra, diretor clínico e fundador do Centro; a Dra. Camila Fávero, cirurgiã-dentista com mestrado e doutorado pela Unesp e pós-doutorado pela Unifesp, além de pesquisadora do Laboratório de Genética do Instituto Butantan; Dra. Irina Kerk , diretora do Laboratório de Genética do Instituto Butantã; e o Dr Nelson F. Lezier, consultor científico do CCB, bacharel em Biotecnologia pela Unifesp e especialista em células-tronco, foi ele que nos apresentou o laboratório e o início dos trabalhos com o dentinho do meu filho.
Estava lá como profissional, ansiosa com a evolução das pesquisas e como uma mãe que não fez a coleta do cordão umbilical de seu filho. De acordo com o Dr. Alexandre, uma das grandes vantagens do armazenamento das células-troncos do dentinho de leite é que elas podem servir não só ao doador, mas também para toda a sua família.
Não podemos deixar de citar que esse é um procedimento não invasivo e que pode ser feito naturalmente durante o período de troca dos dentes da criança (entre os 5 e 12 anos, geralmente).
Ele disse também que as células-tronco da polpa do dentinho de leite são jovens e de excelente qualidade e quantidade, portanto são ideais para um futuro tratamento de doenças degenerativas. Elas são tão especiais porque a polpa do dente é uma pequena massa de tecido vivo, composta de vasos sanguíneos, nervos e células-tronco denominadas mesenquimais multipotentes, o que significa que elas têm a capacidade de se transformar em uma ampla variedade de tipos de células, incluindo:
- miócitos: reparação do tecido muscular;
- cardiomiócitos: reparação do tecido cardíaco;
- neurônios e células da glia: reparação do tecido nervoso;
- osteócitos: reparação de ossos;
- condroblastos: reparação de cartilagem; e
- células epiteliais: reparação da pele e da superfície ocular
Como podemos ver elas poderão ser usadas para novos tratamentos, controle e cura de várias doenças. De acordo com a Dra. Camila, para as crianças que já não possuem mais dentinhos de leite, mas contam com o dente do siso, e o mesmo será extraído, também poderá ser feita a remoção das células-tronco. Também podemos obter essas células dos dentes permanentes.
Segundo a Dra. Irina Kerk , o número de células tronco é progressivamente reduzido com o passar dos anos. Por isso também a preferência aos dentinhos de leite. Temos aqui mais um motivo para prevenção odontológica, já que os dentinhos com a polpa danificada por cárie não poderão ser aproveitados.
Em relação à odontologia, pesquisadores do Instituto Butantã estão testando o uso de células-tronco, retiradas da polpa de dentes de leite, em pacientes que precisam de um implante dentário. As células foram usadas para reparação do tecido ósseo antes da colocação de um implante. Segundo a Dra. Camila Fávero de Oliveira, as vantagens do uso das células-tronco seriam a maior rapidez para colocar o implante e o tempo menor de recuperação em relação ao procedimento com enxerto, além do osso formado ser de maior qualidade, mais vascularizado e com quantidade maiores de minerais.
O armazenamento dessas células tronco é feito da mesma forma, como acontece com o armazenamento das células-tronco do sangue e do tecido do cordão umbilical. Ao ser extraído, o dente de leite deve ser colocado em um tubo próprio fornecido pelo laboratório. Essa polpa será cultivada por profissionais especializados, com a finalidade de extrair e multiplicar as células-tronco mesenquimais multipotentes.
O armazenamento será feito em cinco tubos, sendo quatro com 100% de células-tronco mesenquimais multipotentes e um quinto tubo armazenará a polpa do dente para fornecer, no futuro, se necessário, mais células-tronco.
Esses cinco tubos serão armazenados em nitrogênio líquido, o que garante uma temperatura constante de -196°C, fazendo com que as células-tronco neles armazenadas permaneçam em perfeitas condições de uso, por tempo indeterminado.
Agradeço o convite do Dr. Alexandre, foi muito bom assistir a explanação de todos e tomar conhecimento do avanço das pesquisas no Brasil, e ainda poder ver os primeiros cuidados com o dentinho do meu filho.
Como mãe, fico feliz em poder proporcionar esse cuidado ao meu filho. As células têm a capacidade de regenerar tecidos danificados, mas não é uma prática comum, e agora um investimento em longo prazo. Tenho a esperança de essa ciência ser prática comum, dentro de alguns anos.
Como profissional, continuarei acompanhando as pesquisas e procurando sempre evidências científicas para poder manter meus pacientes informados. Com a velocidade que as pesquisas avançam sobre este tema, e com resultados positivos obtidos, podemos dizer que isso é o presente para um futuro ainda melhor. É o futuro da ciência, medicina e odontologia.
O primeiro dentinho de leite de São José do Rio Preto que está armazenado no Centro de Criogenia Brasil é do meu filho. Ele está sendo cuidado com todo carinho e atenção pela equipe do CCB, enquanto “fadinhas” espalhadas por diversos países, inclusive o Brasil, pesquisam em prol de nossa saúde.